segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

AGRADECIMENTOS 3

AGRADECIMENTOS 4

DOUTOR AROLDO - Vladimir Mendes Patrício

Vladimir Mendes Patrício

 

A minha maior alegria na infância era passear em Montes Claros. A cidade era a terra dos Vemaguetes, aqueles carrinhos estranhos de sons pipocantes que eu adorava ouvir. Ficava na casa do tio Raimundo, onde, com certeza, bebia da fonte do refino cultural e conheci, dentre outras coisas boas da vida, a música dos Beatles, melodia diferente de tudo o que se ouvia em Rio Pardo de Minas na época. 

   Lembro do Doutor Aroldo chegando pra visitar o tio, com seu Dodge Dart marrom. Era o carro de poucos, e corríamos, eu, a Ivana e o Claudinho, a quem carinhosamente chamavam de Curumim, para abrir o portão.  Eu observava a figura pequena do doutor, cabelos lisos, ralos, penteados para trás, olhos negros pequenos, conversa calma, voz de um quase sussurro, a relatar no sofá da sala os casos de Cândido, um filho seu de criação, negro, que era diabético e que comia doces às escondidas, e um caso em que este mesmo quase revirara a casa toda por causa, imagine, de uma barata.  

   Doutor Aroldo pode ser definido como sinônimo de trabalho, de honestidade, de honradez, de ética, de família, enfim, mas tenho para mim no cantinho do coração a lembrança do homem simples que fez o parto de minha mãe há 49 anos atrás, com todo carinho e dedicação, quando vim ao mundo. Ele é o maior presente que a Bahia poderia ter dado ao norte de Minas.

AROLDO CENTENÁRIO DA COSTA TOURINHO - Augusto Vieira

Augusto Vieira                                      


Até o término de meu curso científico, no final do ano de 1962, com quase 18 anos, eu o conhecia apenas de nome. Era considerado por meu pai como um dos grandes médicos da cidade. Convivi muito mais, nesse período, com minha querida e saudosa “tia” Lourdes do que com ele, porque ela era muito amiga de minha mãe e de minha mestra D. Marina. E passei a admirar seu gênio sempre alegre, sua capacidade de resolver problemas com simplicidade e rapidez e seu espírito bastante evoluído, muito à frente das mulheres da época.
    Aí fui estudar em Belo Horizonte, onde permaneci até o mês de dezembro de 1969, presente em nossas vidas o AI-5, um dos mais violentos instrumentos da opressão dos chamados “anos de chumbo”. Retornei à minha aldeia para iniciar a vida profissional, depois de lutar contra a ditadura durante toda minha passagem pela UFMG e sofrer na própria pele as consequências de meus atos. Enveredei-me pelos caminhos do magistério e da advocacia, mas meus sonhos não envelheciam. A luta continuava. E me liguei ao pessoal do MDB, do qual ele era um dos mais conceituados militantes. Participei de várias reuniões do partido, muitas delas na residência de meu querido “tio” Zeca Guimarães, e lá estava ele, sempre altivo, com aqueles inteligentíssimos e pequeninos olhos negros, medicinalmente trajado, sempre à disposição para as lutas pela redemocratização do país. E foi assim que nasceu uma grande amizade que, com o passar do inexorável tempo, só fez se aprofundar e tornar-se cada vez mais sincera, perdurando até seu encantamento. Sentíamos imenso prazer em nos encontrarmos em qualquer local, desde uma solenidade a uma festinha em casa de amigos. Como eu já tratava sua esposa por “tia” Lourdes, passei a tratá-lo por “tio” Aroldo.
   Quando sua filha, Layce, dirigiu a Faculdade de Filosofia eu lecionava Política, no curso de Ciências Sociais. E em homenagem a ela fiz o roteiro e dirigi o I Show Fafil, apresentado uma única vez, no Clube Montes Claros, com o salão do quarto andar lotado. Sucesso estrondoso, com reiterados pedidos de reapresentações que, esnobemente, negávamos, argumentando que jamais conseguiríamos alcançar novamente aquele sucesso, que marcou profundamente a arte universitária de minha aldeia. Adorávamos deixar as pessoas na saudade daquele show, cujos artistas foram os próprios alunos da faculdade. Não fosse minha diretora filha de meu grande amigo, acho que eu não teria me empenhado tanto naquela empreitada. Layce me agradeceu de uma maneira tão carinhosa que jamais esquecerei seu gesto e suas palavras, ditas no palco, no encerramento da jornada.
   Claro que eu gostava muito de Raymundo, de Haroldo Filho e de Henrique, mas dos filhos de “tio” Aroldo, meu grande amigo foi Roberto, Didu, que se tornou personagem de meu livro Estórias do Bala, num dos “causos” mais engraçados que já escrevi, que é a história dele com um dono de bar chamado “Pedro Babão”. Didu frequentava minha casa e uma vez me deu para ler um livro, prontinho, com seus poemas, para que eu fizesse a crítica. Foi uma das coisas mais lindas que já li em toda minha vida.
   Pois é, meu querido “tio” Aroldo, nesse seu centenário, em que toda a cidade reverencia sua memória, quero que você receba mais um afetuoso abraço de seu eterno amigo Augustão Bala Doce. Abraço sincero, como sinceros foram tantos outros que já trocamos, desta vez, com meu coração cheio de saudade de você, que merece de todos nós as mais efusivas homenagens, pelo tanto que você fez por nós e por nossa cidade em toda sua honrada e alegre travessia. Daqui de sua Bahia, saravá, baiano porreta, montes-clarense da gema! E que o dia 20 de fevereiro de 2012 fique eternamente marcado como o “Dia do Centenário de Aroldo da Costa Tourinho”.