Vladimir Mendes Patrício
A minha maior alegria na infância era passear em Montes Claros. A cidade era a terra dos Vemaguetes, aqueles carrinhos estranhos de sons pipocantes que eu adorava ouvir. Ficava na casa do tio Raimundo, onde, com certeza, bebia da fonte do refino cultural e conheci, dentre outras coisas boas da vida, a música dos Beatles, melodia diferente de tudo o que se ouvia em Rio Pardo de Minas na época.
Lembro do Doutor Aroldo chegando pra visitar o tio, com seu Dodge Dart marrom. Era o carro de poucos, e corríamos, eu, a Ivana e o Claudinho, a quem carinhosamente chamavam de Curumim, para abrir o portão. Eu observava a figura pequena do doutor, cabelos lisos, ralos, penteados para trás, olhos negros pequenos, conversa calma, voz de um quase sussurro, a relatar no sofá da sala os casos de Cândido, um filho seu de criação, negro, que era diabético e que comia doces às escondidas, e um caso em que este mesmo quase revirara a casa toda por causa, imagine, de uma barata.
Doutor Aroldo pode ser definido como sinônimo de trabalho, de honestidade, de honradez, de ética, de família, enfim, mas tenho para mim no cantinho do coração a lembrança do homem simples que fez o parto de minha mãe há 49 anos atrás, com todo carinho e dedicação, quando vim ao mundo. Ele é o maior presente que a Bahia poderia ter dado ao norte de Minas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário